sábado, 13 de fevereiro de 2010

EUSÉBIO SANJANE

ROSAS E LÁGRIMAS

Um poeta místico persa e simultaneamente um grande poeta do amor, Rumi, escreveu: «a angústia, é Deus que se afasta!» E o que se perde, nessa distância que gradualmente se interpõe entre nós e Deus? A reciprocidade do olhar.
Por causa do tipo de combustão que  alimenta a reciprocidade dos olhares podemos, com pertinência, substitituir Deus pelo tu e repetir a formulação: «a angústia, és Tu que te afastas». E este afastamento torna-se tremendo porque nós só nos completamos no Tu que o Amor celebra.
É  neste transe ( e aflição) que o lirismo de Eusébio Sanjane se situa, o que quer dizer que Rosas e Lágrimas é um primeiro cometimento de um poeta lírico, que escolheu o Amor como paisagem poética (o que rareia mais do que se julga).
Propensão lírica que se ilustra nesta passagem: «dá-me somente alguns versos/ para que eu possa cravar/ sobre os meus passos/o vazio do meu nome.»
... A sua poesia propende à leveza do pássaro que não necessita, para cantar, de possuir  floresta, nem mesmo de possuir uma só árvore - é dádiva pura. A dádiva que se desprende nestes versos: «quando te amo / não tenho corpo.» Parece-me um paradoxo: como é que se ama sem corpo? O poema responde na estrofe seguinte: «desfaço-me em cinza/deixas escapar meu nome».
...Belíssima imagem: «fecho os olhos/ bem devagar /para que o tempo não note / a tua demora (...)»
....Aconselhamos a este jovem poeta a despir de ornamentos os seus poemas como despe os corpos.

   António Cabrita
  Docente Universitário e Crítico de Artes
Texto de apresentação do livro Rosas e Lágrimas





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