domingo, 2 de janeiro de 2011

Direito à Informação e Jornalismo em Moçambique


Esta obra constitui o regresso à escrita analítica do jornalista Tómas Vieira Mário com créditos firmados na imprensa nacional, do escritor/ficcionista, agora jurista, apresentando estudos e comunicações à volta do direito à informação e do jornalismo, temas cadentes na actualidade nacional e internacional.
Em Direito à Informação e Jornalismo em Moçambique, o autor explora questões de âmbito legal e jornalístico tais como: Legislação da radiodifusão em Moçambique; Crimes da Imprensa; Pluralismo Informativo ou Imprensa de Subsistência; Ética Jornalística e o Processo Eleitoral, dentre outras.

Prefaciando a obra, o Prof. Doutor Lourenço do Rosário diz a dado passo que, continua a não ser de excluir mecanismos de censura velada por variados interesses, nem atitudes de autocensura por questões de pudor político e até ideológico e a presença de um estado vigilante. Na base destas atitudes, podemos encontrar razões de ordem filosófica ou de interesse político como inibidores da liberdade de expressão, segundo Tomás Vieira Mário.

sábado, 1 de janeiro de 2011

CONTRAVENÇÃO - uma história de amor em tempo de guerra — PRÉMIO CRAVEIRINHA 2009

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Discurso de Aldino Muianga por ocasião da entrega do Prémio José Craveirinha 2009
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Maputo, 18 de Dezembro de 2009

Exmos Senhores Representantes da Hidroeléctrica Cahora Bassa
Exmo Senhor Secretário Geral da  Associação dos Escritores Moçambicanos
Caros Amigos e Confrades
Senhoras e Senhores

É um grande privilégio estar aqui entre V.exas, nesta cerimónia de entrega do Prémio José Craveirinha  2009, atribuído ao romance Contravenção.


Como autor da obra, devo confessar que foi com muita surpresa que acolhi a notícia. Considero que este é um acontecimento agradável e encorajador no meu percurso literário, o qual aceito com toda a humildade.
O prémio não é apenas um reconhecimento à dedicação de um escritor, mas também um conforto ao público que sempre acompanhou e acolheu uma obra que pretende ser a afirmação duma toda identidade, histórica e cultural, a identidade do nosso ser moçambicano, como modesta contribuição à nossa Literatura.

Sem pretender ser juiz de mim mesmo, quando a concebi, pretendia que a Contravenção fosse uma narrativa introspectiva, uma reflexão sobre o meu (nosso) próprio ser, passado e histórico. Muito longe estava eu de imaginar que merecesse a atenção que mereceu e que lhe valeu esta considerção. Escrevi-a com lágrimas na ponta da minha caneta, porque de lágrimas muitas vezes se faz a nossa vida. E achei que para as secar deveria rir-me de mim próprio.  E Contravenção  é isso mesmo: o sorriso amargo com que mascaramos a face para ocultarmos o pranto que a alma verte.  Como cidadão deste país,  pretendi que fosse o registo dos meus conflitos emocionais, das perplexidades sociais e das dúvidas sobre o nosso futuro como país e como nação.


Fico honrado por saber os meus sentimentos partilhados com outrem.
Nesta ocasião, tomo a liberdade para manifestar o meu sincero agradecimento à minha esposa, a Karol, «vítima mais próxima das minhas fantasias literárias», de quem tenho merecido encorajamento ao longo desta carreira de escritor. Cada estória, cada livro, é_ e já o afirmei  numa ocasião_ é uma partitura executada por duas mãos: uma delas  é a minha, a outra é dela! Muito obrigado, Karol. Aos meus filhos, companheiros  fiéis nesta viagem  pelo imaginário da vida.


Uma mensagem de apreço aos patrocinadores deste prémio, pelo seu envolvimento na causa da Literatura do nosso país e pela sua generosidade. A Literatura não é uma manifestação isolada no nosso contexto cutural. Ela necessita do público, das instituições e de acções programadas do governo para a sua promoção e divulgação. Bem-haja a HCB que, de há anos a esta parte tem patrocinado este prémio.
A todos os que têm acompanhado a minha obra e me têm privilegiado com os seus comentários e conselhos, um eterno Obrigado.


Senhoras e Senhores, faço votos de que tenham uma noite cultural agradável  e assim termino com a promessa de um próximo encontro para breve.
Muito obrigado.

A ldino Muianga













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A Sociedade Editorial Ndjira sente-se muito honrada com a atribuição deste dignificante Prémio a um dos seus livros de ficção publicado no ano passado, desta vez da autoria de Aldino Muianga e intitulado Contravenção – Uma História de Amor em Tempo de Guerra.
O Prémio José Craveirinha foi atribuido pela primeira vez em 2003, em ex-aequo e, coube às obras Niketche e Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra autorias Paulina Chiziane e Mia Couto,  nossas edições.
De novo, a Ndjira foi premiada em 2005 pelo romance As Visitas do Dr. Valdez da autoria de João Paulo Borges Coelho.
Por último, foi Aldino Muianga, o premiado mercê  da sua obra Contravenção – uma história de amor em tempo de guerra.
Em conclusão:
 das 6 vezes que o prémio José Craveirinha foi outorgado, couberam-nos a nós Editora Ndjira, a quatro obras com nossa estampa. Isto constitui uma actuação dignificante, mas também um desafio para efectuarmos um trabalho de valor estético reconhecido e é essa mesma evidência de qualidade que respeitaremos com o apoio que nos dão os escritores moçambicanos e que é nosso dever respeitar. É nosso prazer sentir com uma pontinha de legítimo orgulho.

Com a repectição da nossa homenagem a Aldino Muianga, também queremos expressar o nosso caloroso agradecimento à empresa Hidroeléctrica de Cahora Bassa e à Associação de Ecritores Moçambicanos e por fim a todas pessoas que com a sua presença se associaram, dignificando este acontecimento.

A todos muito obrigado

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Para o júri, o livro condensa as glórias do seu povo, cujo ponto maior foi a proclamação da independência nacional, os infortúnios da guerra que levou milhares e milhares de moçambicanos à degradante condição de refugiados no Malawi, Zâmbia, Zimbabwe, África do Sul e Tanzânia.
Este autor, referem os membros desse órgão deliberativo, é dono de um estilo próprio de quem conhece bem os quartos da língua portuguesa, entre a guerra devastadora, as cidades sitiadas, lojas e mercados vazios. 


Aldino Frederico de Oliveira Muianga, nascido a 1 de Maio de 1950, nos arredores da cidade de Maputo, formou-se em Medicina.Ao longo da sua carreira publicou os seguintes livros:
Xitala Mati (contos), 1.ª edição, 1987;  2.ª edição, 2007; Magustana (novela), 1992; A Noiva de Kebera (contos), 1999; Rosa Xintimana (romance), 2001; (Prémio Literário TDM); O Domador de Burros (contos), 1.ª edição, 2003;    2.ª edição, 2007; (Prémio Literário Da Vinci); Meledina ou história de uma prostituta (romance), 1.ª edição, 2004;   2.ª edição, 2008; A Metamorfose (contos), 2005; Contos Rústicos (contos), 2007 e Contravenção - uma história de amor em tempo de guerra (romance), 2008.


O júri foi presidido pelo escritor Pedro Chissano e integrava os professores de literatura Valdemiro Djopela, Aurélio Cuna e Lucílio Manjate (também escritor).

É a primeira vez, desde a sua criação, que o anúncio do vencedor é feito fora da cidade de Maputo e tal novidade deveu-se ao facto de a proclamação desse resultado ter sido incluída nas celebrações da reversão da Hidroélectrica de Cahora Bassa (HCB) para o Estado moçambicano.
A HCB é o principal patrocinador do prémio, no valor de 5000 dólares norte-americanos.

Fonte: Jornal Notícias.
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 CONTRAVENÇÃO


Uma história de amor em tempo de guerra

«- Okay! Se preferes assim, então deixo ficar. Mas todo o mundo há-de saber que a grávida é tua. Hoje mesmo vou falar com o ministro e com a tua mulher. E mais. Vou informar lá na sede nacional do Partido. Vai ser uma escandaleira que nem queiras saber! Hás-de saber quem é a Filipa Moto-Moto. Eu sou filha da minha mãe e não uma dessas da rua...- levanta-se da cadeira com movimentos desempenados, pronta a retirar-se.
- Espera, espera!- diz Kazulo, com as mãos no ar, em sinal de rendição, numa tentativa de viragem para a reconciliação.
– A conversamos assim não chegamos a lado nenhum. Se se puder dar um jeito nisso, por que não tentar? Mas, caramba, como arranjaste isso?
- Que se pode dar um jeito, lá isso pode-se. Falei com uma enfermeira do Hospital José Macamo que diz que pode ajudar (...)»

Senhor Derector Miro Kazulo
Bairro Hanhane, 3 de Utubro de 198...
Vossa Excelência
Serve esta missiva para lhe cumprimentar e desejar boa saúde na junção da tua família.
Senhor derector, esta carta é sobre do prazo do pagamento do empréstimo dos oitenta mil meticais que espirra no dia deje deste mês. Caso o contrário, não pagar na data que a gente combinámos, a questão vai parar no Terbonal.
Junto com esta vai fotocópia do contrato.
Manda cheque avisado com o motorista que custuma vir buscar carne.
Adeus.
A Luta Continua!
Independência ou Morte, Venceremos!
Unidade, Trabalho e Vigilância.
NB: não aceito mais vales, nem para leitão, nem para cabirrito, nem mesmo para coelho!

Petrosse Nkumalo
(Derector da Empresa Agro-Pecuária Caprinos e Suínos de Moçambique Ltd)
C/c: Ministério de Indústria Energia
Sede Nacional do Partido
Dereção Nacional dos Camins- de-Fero
Secretaria de Estado de Indústria Alimentar


 Veja mais sobre Aldino Muianga e suas obras clicando aqui.




TATUAGENS DE ESTRELAS

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«Quando li pela primeira vez os poemas de Chagas Levene tive a noção exacta de que o poeta e a poesia se fundiam num só. E que a sua voz se articulava numa muito sensível dicção singular, que irmana as estrelas e o sonho à forte ironia crítica do cotidiano e da história do seu país. Pertecendo a uma geração desencantada das utopias, Chagas Levene mantém, no entanto, o difícil crédito encantatório num en(canto) da emoção e da vida, e acredita que as palavras podem iluminar o coração dos homens com tatuagens de estrelas.»
Ana Mafalda Leite


«Sem ser necessariamente musical, esta é uma poesia sonora da sílaba, na palavra e melódica no verso que, mais do que afirmação do que quer que seja, é, sobretudo, uma busca das suas possibilidades plásticas.
Naquilo que poeticamente pode ser construido, enquanto emanação da linguagem, da razão, da sensibilidade e da imaginação. »
Francisco Noa


Chagas Levene, é pesquisador e consultor de profissão. Os seus textos foram publicados em Moçambique nos jornais Domingo, Savana, e Lua Nova, nas revistas Tempo e Oásis.

Em Portugal consta da antologia Encontro com Escritores. No Canadá publicou na revista de poesia Eloisis. No Brasil na revista Poesia Sempre. Na Inglaterra consta da antologia Lusophone Project.

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VERDADEIRA CONFISSÃO

Retrato neste livro, acima de tudo a minha vida pessoal, que foi muito dolorosa. Tive uma infância muito turbulenta. Como sou filho de pais separados, andei em vários lugares, vivi na rua, cheguei a trabalhar como empregado doméstico, para poder sobreviver. Consegui dar uma volta à minha vida, com o apoio de irmãos da Igreja que me apoiaram e conseguiram condições para que eu estudasse. Consegui fazer o 12º ano e estou agora a tirar o curso de Direito.

Considerações do autor aquando da premiação de sua obra no Concurso Literário TDM 2004 - Menção Honrosa.
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SER ME QUER

Ser me quer
O que quer que seja
Melhor seria bem querer
Ser mais vidro que sobeja

Em cristais partidos
Particularizar o coração
Volume vivo dos sentidos
Restos desta paixão

Ai meu querer fugitivo
Profundos olhares precisas
        Pra nestas ntrevas cativas
      De minhas verdades viveres

     Ainda neste querer sobejante
       Te sonho embalado em mim
     Mentindo na cara sem morte
      Que um dia não será assim

        Me dera Deus sim querer
       Que seja amor que sobeja
      Em ti e em mim este querer
    Levando-nos na alma que beija.



TERRA SONÂMBULA SELECCIONADO NO BRASIL PARA O VESTIBULAR 2010



O Centro de Selecção da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) escolheu o romance «Terra Sonâmbula», de Mia Couto, para fazer parte do Vestibular 2010.

A obra do escritor moçambicano faz parte de uma lista de livros onde integram: «Macunaíma», de Mário de Andrade; o Episódio «A máquina do mundo» (fragmento de Os Lusíadas), de Luís Vaz de Camões; «Pequenas Criaturas», de Rubem Fonseca; e «Poemas rupestres», de Manuel de Barros.
Ver artigo completo aqui.
De recordar que Terra Sonâmbula foi considerado por júri especial da Feira do Livro de Zimbabwe um dos doze melhores livros africanos do século XX.
É um romance em abismo e esperança, escrito numa prosa poética. Mia Couto se vale também de recursos do realismo mágico e da arte narrativa tradicional africana para compor esta bela fábula.
A obra narra a história do velho Tuahir e do menino Muidinga, que servem-se de um machimbombo incendiado em uma estrada poeirenta como seu abrigo, em fuga da guerra civil devastadora que grassa por toda parte em Moçambique. Como se sabe, depois de dez anos de guerra anticolonial. O veículo está cheio de corpos carbonizados. Mas há também um outro corpo à beira da estrada, junto a uma mala que abriga «os cadernos de Kindzu», o longo diário do morto em questão. A partir daí, duas histórias são narradas paralelamente: a viagem de Tuahir e Muidinga e, em flashback,o percurso de Kindzu em busca dos naparamas, guerreiros tradicionais, abençoados pelos feiticeiros, que são, aos olhos do garoto, a única esperança contra os senhores da guerra.

IMAGINAR O POETIZADO

Sónia Sultuane - Imaginar o Poetizado


«(...) os poemas de Sónia Sultuane, além de muito femininos, são também insinuantemente, inconformistas pela sua temática sensorial e seu desnudamento emocional.

Feminina, por excelência, esta forma da implicação da escrita como o corpo erotisa a letra/som, que se escreve entre pele e pena e entre voz e verbo; há um arrebatamento e uma fisicidade da palavra poética que a torna concreta, sensível, palavra poética nascida dos sentidos, que renasce em amorosa vulnerabilidade, exibindo um corpo, que fala, diz, contradiz, esplende, vibra, linguangens não codificadas na sua surpresa de acontecimento, de dádiva e de entrega. O amor que nos poemas de Sónia se faz revelação, não é um amor de alma, mas do corpo, um verbo carne, encarnação.»
in prefácio de Ana Mafalda Leite*
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* Poetisa e Professora de Literatura

ROMANCES DE MIA COUTO

Fotografia de Alfredo Cunha


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TERRA SONÂMBULA 

Esta obra narra a história do velho Tuahir e do menino Muidinga, que servem-se de um machimbombo incendiado em uma estrada poeirenta como seu abrigo, em fuga da guerra civil devastadora que grassa por toda parte em Moçambique. Como se sabe, depois de dez anos de guerra anticolonial. O veículo está cheio de corpos carbonizados. Mas há também um outro corpo à beira da estrada, junto a uma mala que abriga «os cadernos de Kindzu», o longo diário do morto em questão. A partir daí, duas histórias são narradas paralelamente: a viagem de Tuahir e Muidinga e, em flashback,o percurso de Kindzu em busca dos naparamas, guerreiros tradicionais, abençoados pelos feiticeiros, que são, aos olhos do garoto, a única esperança contra os senhores da guerra. 

- Estou-lhe a dizer, miúdo: vamos instalar casa aqui mesmo.
- Mas aqui? Num machimbombo todo incendiado?
- Você não sabe nada, miúdo. O que já está queimado não volta a arder.
(...) - Mas na estrada não é perigoso, Tuahir? Não é melhor esconder no mato?
- Nada. Aqui podemos ver os passantes. Está-me compreender?
- Você sempre sabe, Tuahir.
- Não vale a pena queixar. Culpa é sua: não é você que quer procurar seus pais?
- Quero. Mas na estrada quem passa são bandos.
- Os bandos se vierem, nós fingimos que estamos mortos. Faz conta falecemos junto com o machimbombo.
Excerto do cap. I. «A estrada morta»

                                          
                      
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Terra Sonâmbula foi considerado por júri especial da Feira do Livro de Zimbabwe um dos doze melhores livros africanos do século XX. 

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A VARANDA DO FRANGIPANI 

A narrativa de A Varanda do Frangipani decorre na Fortaleza de S. Nicolau. A fortaleza há muito que deixou de ser reduto de defesa e ocupação estrangeira para se transformar num asilo de velhos. A trama policial, as reflexões sobre a guerra e sobre a paz, o Universo mágico, a riqueza de personagens, aliados a uma narrativa pujante e amadurecida, fazem deste livro uma das mais belas obras de Mia Couto.

O culpado que você procura, caro Izidine, não é uma pessoa. é a guerra. Todas as culpas são da guerra. Foi ela que matou Vasco. Foi ela que rasgou o mundo onde a gente idosa tinha brilho e cabimento. Estes velhos que aqui apodrecem, antes do conflito eram amados (...)
Vê aquele edifício, além, todo em ruínas? Aquilo já foi uma enfermaria. Era ali que eu trabalhava. Recebia medicamentos da cidade. Mas o asilo foi atacado, semanas após eu ter chegado. Os bandos entraram aqui, roubaram, mataram. Lançaram fogo sobre a enfermaria. Morreram duas velhas. Não morreram todos graças a quem? Espante-se, caro Izidine. Graças a Vasco Excelêncio. Se admira? Pois foi Vasco que entrou pelas chamas adentro, arregaçando coragem e salvando os outros doentes. Do edifício restaram chamuscadas paredes.
Depois da tragédia, eu fiquei como aquelas ruínas. Sobretudo quando soube que a principal razão do ataque tinha sido eu própria, Marta Gimo. Os bandidos me queriam raptar, conduzir-me para os acampamentos deles. Levei tempo a refazer-me daquele incidente. Nunca me refiz totalmente. A guerra deixa em nós feridas que nenhum tempo pode cicatrizar.
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Excerto do capítulo: A Confissão de Marta

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VINTE E ZINCO 

Numa pequena cidade do Moçambique colonial a violência sustenta um mundo dividido - o dos naturais, em baixo, e, sobre ele, o peso do opressor. De súbito, lá longe, na capital do Império, a terra treme, o pilar da sustentação abate-se, e na pequena cidade colonial o efeito é catastrófico. Das profundezas ergue-se o novo mundo. Do velho salvar-se-á alguém?
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- Me diga, senhor Lourenço. Com esta nova situação, o que é que vai fazer?
- Sei lá.
- Mas tem que saber. Ou os outros vão saber por si.
- Isto não vai ficar assim. A minha gente não vai deixar isto ficar assim.
- O senhor já não tem gente nenhuma, senhor Castro. Vá-se embora daqui, sem mais demora.
- Não posso, ainda tenho coisa a fazer aqui.
- Ao menos, deixe eu levar Dona Margarida, sua mãe. Eu acompanho a senhora para Pebane. Lá, a senhora apanha um barco. E o senhor vai junto com ela.
- Eu não vou, fico por aqui. Vou morrer aqui, já sei.
- Deixe disso, senhor Castro. Ainda lhe vou convidar para a festa da nossa Independência.
- Preferia morrer a ver essa tragédia.
- Este vinte e cinco ainda não é nada. Hão de vir outros vinte e cincos, mais nossos, desses em que que só há antes e depois.
- Prefiro morrer.


Excerto do texto «28 de Abril»





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  O ÚLTIMO VOO DO FLAMINGO

Tizangara, primeiros anos do pós-guerra. Nesta vila tudo parecia correr bem. Os capacetes azuis já haviam chegado para vigiarem o processo de paz, e o dia-a-dia da população corria numa aparente normalidade. Mas por razões que quase todos desconheciam, esses mesmos capacetes azuis começaram, de súbito, a explodir. Massimo Risi, o soldado italiano das Nações Unidas destacado para investigar estas estranhas explosões, chega a Tizangara. Colocam-lhe um tradutor à disposição, e é através do relato deste que tomamos conhecimento dos factos. Entramos num mundo de vivos e de mortos, de realidade e de fantasia, de feitiços e de sobrenatural. A verdade e a ficção passam por nós em personagens densamente construídas, de que o feiticeiro Andorinho, a prostituta Ana Deusqueira, o padre Muhando, o administrador Estêvão Jonas e a sua mulher Ermelinda, a velha-moça Temporina, o velho Sulplício, são apenas alguns exemplos... 

O mistério adensa-se. Os soldados da paz morreram ou foram mortos?
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 UM RIO CHAMADO TEMPO, UMA CASA CHAMADA TERRA

Um jovem estudante universitário regressa à sua ilha-natal para participar no funeral de seu avô Mariano. Enquanto aguarda pela cerimónia ele é testemunha de estranhas visitações na forma de pessoas e de cartas que lhe chegam do outro lado do mundo. São revelações de um universo dominado por uma espiritualidade que ele vai reaprendendo. À medida que se apercebe desse universo frágil e  ameaçado, ele redescobre uma outra história para a sua própria vida e para a da sua terra. 

A pretexto do relato das extraordinárias peripécias que rodeiam o funeral, este novo romance de Mia Couto traduz, de uma forma a um tempo irónica e profundamente poética, a situação de conflito vivida por uma elite ambiciosa e culturalmente distanciada da maioria rural.

Uma vez mais, a escrita de Mia Couto leva-nos para uma zona de fronteira entre diferentes racionalidades, onde percepções diversas do mundo se confrontam, dando conta do mosaico de culturas que é o nosso país e das mudanças profundas que atravessam a sociedade moçambicana actual.

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O OUTRO PÉ DA SEREIA 

Viagens diversas cruzam-se neste romance: a de D. Gonçalo da Silveira, a de Mwadia Malunga e a de um casal de afro-americanos. O missionário português persegue o inatingível sonho de um continente convertido, a jovem Mwadia cumpre o impossível regresso à infância e os afro-americanos seguem a miragem do reencontro com um lugar encantado.

Outras personagens atravessam séculos e distâncias: o escravo Nimi, à procura das areias brancas da sua roubada origem. A própria estátua de Nossa Senhora, viajando de Goa para África, transita da religião dos céus para o sagrado das águas. E toda uma aldeia chamada Vila Longe atravessa os territórios do sonho, para além das fronteiras da geografia e da vida.

As diferentes viagens entrecruzam-se numa narrativa mágica, por via de uma mesma escrita densa e leve, misterios e poética de um dos mais consagrados escritores da língua portuguesa.

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VENENOS DE DEUS, REMÉDIOS DO DIABO

O jovem médico português Sidónio Rosa, perdido de amores pela mulata moçambicana Deolinda, que conheceu em Lisboa num congresso médico, deslocou-se como cooperante para Moçambique em busca da sua amada. Em Vila Cacimba, onde encontra os pais dela, espera pacientemente que ela regresse do estágio que está a frequentar algures. Mas regressará ela algum dia? Entretanto vão-se-lhe revelando, por entre a névoa que a cobre, os segredos e mistérios, as histórias não contadas de Vila Cacimba – a família dos Sozinhos, Munda e Bartolomeu, o velho marinheiro, o administrador, Suacelência e a sua Esposinha, a Misteriosa mensageira do vestido cinzento espalhando as flores do esquecimento.

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JESUSALÉM

Jesusalém é seguramente a mais madura e mais conseguida obra de um escritor em plena posse das suas capacidades criativas. Aliando uma narrativa a um tempo complexa e aliciante ao seu estilo poético tão pessoal, Mia Couto confirma o lugar cimeiro de que goza nas literaturas de língua portuguesa.

A vida é demasiado preciosa para ser esbanjada num mundo desencantado, diz um dos protagonistas deste romance. A prosa mágica do escritor moçambicano ajuda, certamente, a reencantar este nosso mundo.

Acompanhe ainda o texto de apresentação de Ungulani Ba Ka Khosa e as imagens do lançamento do livro.

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