sábado, 1 de janeiro de 2011

CONTRAVENÇÃO - uma história de amor em tempo de guerra — PRÉMIO CRAVEIRINHA 2009

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Discurso de Aldino Muianga por ocasião da entrega do Prémio José Craveirinha 2009
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Maputo, 18 de Dezembro de 2009

Exmos Senhores Representantes da Hidroeléctrica Cahora Bassa
Exmo Senhor Secretário Geral da  Associação dos Escritores Moçambicanos
Caros Amigos e Confrades
Senhoras e Senhores

É um grande privilégio estar aqui entre V.exas, nesta cerimónia de entrega do Prémio José Craveirinha  2009, atribuído ao romance Contravenção.


Como autor da obra, devo confessar que foi com muita surpresa que acolhi a notícia. Considero que este é um acontecimento agradável e encorajador no meu percurso literário, o qual aceito com toda a humildade.
O prémio não é apenas um reconhecimento à dedicação de um escritor, mas também um conforto ao público que sempre acompanhou e acolheu uma obra que pretende ser a afirmação duma toda identidade, histórica e cultural, a identidade do nosso ser moçambicano, como modesta contribuição à nossa Literatura.

Sem pretender ser juiz de mim mesmo, quando a concebi, pretendia que a Contravenção fosse uma narrativa introspectiva, uma reflexão sobre o meu (nosso) próprio ser, passado e histórico. Muito longe estava eu de imaginar que merecesse a atenção que mereceu e que lhe valeu esta considerção. Escrevi-a com lágrimas na ponta da minha caneta, porque de lágrimas muitas vezes se faz a nossa vida. E achei que para as secar deveria rir-me de mim próprio.  E Contravenção  é isso mesmo: o sorriso amargo com que mascaramos a face para ocultarmos o pranto que a alma verte.  Como cidadão deste país,  pretendi que fosse o registo dos meus conflitos emocionais, das perplexidades sociais e das dúvidas sobre o nosso futuro como país e como nação.


Fico honrado por saber os meus sentimentos partilhados com outrem.
Nesta ocasião, tomo a liberdade para manifestar o meu sincero agradecimento à minha esposa, a Karol, «vítima mais próxima das minhas fantasias literárias», de quem tenho merecido encorajamento ao longo desta carreira de escritor. Cada estória, cada livro, é_ e já o afirmei  numa ocasião_ é uma partitura executada por duas mãos: uma delas  é a minha, a outra é dela! Muito obrigado, Karol. Aos meus filhos, companheiros  fiéis nesta viagem  pelo imaginário da vida.


Uma mensagem de apreço aos patrocinadores deste prémio, pelo seu envolvimento na causa da Literatura do nosso país e pela sua generosidade. A Literatura não é uma manifestação isolada no nosso contexto cutural. Ela necessita do público, das instituições e de acções programadas do governo para a sua promoção e divulgação. Bem-haja a HCB que, de há anos a esta parte tem patrocinado este prémio.
A todos os que têm acompanhado a minha obra e me têm privilegiado com os seus comentários e conselhos, um eterno Obrigado.


Senhoras e Senhores, faço votos de que tenham uma noite cultural agradável  e assim termino com a promessa de um próximo encontro para breve.
Muito obrigado.

A ldino Muianga













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A Sociedade Editorial Ndjira sente-se muito honrada com a atribuição deste dignificante Prémio a um dos seus livros de ficção publicado no ano passado, desta vez da autoria de Aldino Muianga e intitulado Contravenção – Uma História de Amor em Tempo de Guerra.
O Prémio José Craveirinha foi atribuido pela primeira vez em 2003, em ex-aequo e, coube às obras Niketche e Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra autorias Paulina Chiziane e Mia Couto,  nossas edições.
De novo, a Ndjira foi premiada em 2005 pelo romance As Visitas do Dr. Valdez da autoria de João Paulo Borges Coelho.
Por último, foi Aldino Muianga, o premiado mercê  da sua obra Contravenção – uma história de amor em tempo de guerra.
Em conclusão:
 das 6 vezes que o prémio José Craveirinha foi outorgado, couberam-nos a nós Editora Ndjira, a quatro obras com nossa estampa. Isto constitui uma actuação dignificante, mas também um desafio para efectuarmos um trabalho de valor estético reconhecido e é essa mesma evidência de qualidade que respeitaremos com o apoio que nos dão os escritores moçambicanos e que é nosso dever respeitar. É nosso prazer sentir com uma pontinha de legítimo orgulho.

Com a repectição da nossa homenagem a Aldino Muianga, também queremos expressar o nosso caloroso agradecimento à empresa Hidroeléctrica de Cahora Bassa e à Associação de Ecritores Moçambicanos e por fim a todas pessoas que com a sua presença se associaram, dignificando este acontecimento.

A todos muito obrigado

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Para o júri, o livro condensa as glórias do seu povo, cujo ponto maior foi a proclamação da independência nacional, os infortúnios da guerra que levou milhares e milhares de moçambicanos à degradante condição de refugiados no Malawi, Zâmbia, Zimbabwe, África do Sul e Tanzânia.
Este autor, referem os membros desse órgão deliberativo, é dono de um estilo próprio de quem conhece bem os quartos da língua portuguesa, entre a guerra devastadora, as cidades sitiadas, lojas e mercados vazios. 


Aldino Frederico de Oliveira Muianga, nascido a 1 de Maio de 1950, nos arredores da cidade de Maputo, formou-se em Medicina.Ao longo da sua carreira publicou os seguintes livros:
Xitala Mati (contos), 1.ª edição, 1987;  2.ª edição, 2007; Magustana (novela), 1992; A Noiva de Kebera (contos), 1999; Rosa Xintimana (romance), 2001; (Prémio Literário TDM); O Domador de Burros (contos), 1.ª edição, 2003;    2.ª edição, 2007; (Prémio Literário Da Vinci); Meledina ou história de uma prostituta (romance), 1.ª edição, 2004;   2.ª edição, 2008; A Metamorfose (contos), 2005; Contos Rústicos (contos), 2007 e Contravenção - uma história de amor em tempo de guerra (romance), 2008.


O júri foi presidido pelo escritor Pedro Chissano e integrava os professores de literatura Valdemiro Djopela, Aurélio Cuna e Lucílio Manjate (também escritor).

É a primeira vez, desde a sua criação, que o anúncio do vencedor é feito fora da cidade de Maputo e tal novidade deveu-se ao facto de a proclamação desse resultado ter sido incluída nas celebrações da reversão da Hidroélectrica de Cahora Bassa (HCB) para o Estado moçambicano.
A HCB é o principal patrocinador do prémio, no valor de 5000 dólares norte-americanos.

Fonte: Jornal Notícias.
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 CONTRAVENÇÃO


Uma história de amor em tempo de guerra

«- Okay! Se preferes assim, então deixo ficar. Mas todo o mundo há-de saber que a grávida é tua. Hoje mesmo vou falar com o ministro e com a tua mulher. E mais. Vou informar lá na sede nacional do Partido. Vai ser uma escandaleira que nem queiras saber! Hás-de saber quem é a Filipa Moto-Moto. Eu sou filha da minha mãe e não uma dessas da rua...- levanta-se da cadeira com movimentos desempenados, pronta a retirar-se.
- Espera, espera!- diz Kazulo, com as mãos no ar, em sinal de rendição, numa tentativa de viragem para a reconciliação.
– A conversamos assim não chegamos a lado nenhum. Se se puder dar um jeito nisso, por que não tentar? Mas, caramba, como arranjaste isso?
- Que se pode dar um jeito, lá isso pode-se. Falei com uma enfermeira do Hospital José Macamo que diz que pode ajudar (...)»

Senhor Derector Miro Kazulo
Bairro Hanhane, 3 de Utubro de 198...
Vossa Excelência
Serve esta missiva para lhe cumprimentar e desejar boa saúde na junção da tua família.
Senhor derector, esta carta é sobre do prazo do pagamento do empréstimo dos oitenta mil meticais que espirra no dia deje deste mês. Caso o contrário, não pagar na data que a gente combinámos, a questão vai parar no Terbonal.
Junto com esta vai fotocópia do contrato.
Manda cheque avisado com o motorista que custuma vir buscar carne.
Adeus.
A Luta Continua!
Independência ou Morte, Venceremos!
Unidade, Trabalho e Vigilância.
NB: não aceito mais vales, nem para leitão, nem para cabirrito, nem mesmo para coelho!

Petrosse Nkumalo
(Derector da Empresa Agro-Pecuária Caprinos e Suínos de Moçambique Ltd)
C/c: Ministério de Indústria Energia
Sede Nacional do Partido
Dereção Nacional dos Camins- de-Fero
Secretaria de Estado de Indústria Alimentar


 Veja mais sobre Aldino Muianga e suas obras clicando aqui.




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