terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

ISTO DE FUTEBÓIS

ISTO DE FUTEBÓIS
     Esta coisa de futebóis mói a cabeça. Fá-la girar, girar e quase sempre deixa-a na mesma. Isto porque, «cientificamente»,  há certos lances falhados que não têm explicação nenhuma. Eu  próprio já dei por mim, uma ocasião, a matutar e a pensar como foi possível Geraldo perder um golo sobre o risco da baliza. Já fiquei horas a fio tentando explicar a mim próprio «aquela, coisa impensável» que se deu com Elias, em 1982, em Pemba, quando o Maxaquene ali se deslocou para jogos particulares. Sem ninguém a estorvá-lo e sobre o risco de golo Elias cabeceou à barra, na recarga chutou ao poste direito e na sequência atirou ao poste esquerdo, saindo a bola, então para fora. Ele estava sozinho! Lembro-me que Naldo, a meio-campo, levou as mãos à cabeça e gritou bem alto:

     - «Meus Deus, o que é isto?»

     Toda a gente desatou à gargalhada. Se perguntarem a Elias se isto foi verdade, ele dirá que não; que é mentira; que eu é que inventei esta «anedota». Mas foi verdade, sim senhor. Como se há de explicar, justificar e clarificar uma jogada deste jeito? E lembro-me, ainda, daquele lance genial de Gil, em Kinshasa, pela selecção nacional. Foi assim: ele «comeu» todo o mundo, ficou isolado, e quando o «keeper» saiu ao seu encontro, atirou ao lado.

     E há, ainda e também, aqueles «frangos» monumentais dos guarda-redes, que quase não se explicam. Recordo um jogo de «reservas» no campo do Desportivo, à noite. Um avançado dos «alvi-negros» chutou fraco; a bola ia nitidamente para fora, mas o «keeper» maxaquenense (Ali) meteu-lhe o pé, para não deixar ultrapassar a cabeceira, e ela zás, foi direitinha ao fundo da baliza, inexplicavelmente. Isto de futebóis é mesmo assim. Ah! Mas apesar de tudo, como gosto de futebol!

     Porque isso é o futebol: falha o Maradona, falha o Magnussen, falha o Calton. Dão «frangos» os Yachines, os V. Baías, os Nuros Americanos. Entregam mal o Carlitos Manuel, o Van Basten, o Manuel , o Ali, etc.
     É o futebol!

_____________________________________________________
«Neste livro, que mais não pretende senão vincar o seu amor, a sua dedicação, o seu apego pela arte de escrever (que ele transformou em profissão), Ângelo Rocha de Oliveira (re)transmite o quotidiano que ele mesmo viveu desde os tempos de menino-moço, nado na linda e tropicalíssima cidade de Quelimane, nos tempos de futebóis, de que foi um dos seus mais aptos praticantes, sem esquecer da sua visão do mundo,  apartir do «observatório angochiano», na costa nampulense, onde viveu e trabalhou durante aproximadamente dois anos antes de regressar ao jornalismo».

in prólogo de Jorge Matine


Sem comentários:

Enviar um comentário

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails