sábado, 1 de janeiro de 2011

FERNANDO COUTO


«Comecei, como então era costume, por fazer quadras, que, porém ficavam muito longe de ter a esplêndida expressividade e beleza das quadras populares que formam o Cancioneiro Popular Português.
Nasci nos arredores do Porto, um ambiente de arrabalde citadino e ainda de alguma ruralidade, o que me tornou apaixonado da natureza. Estudei no Porto, onde beneficiei daquele ambiente muito vivo que era o dos finais da Segunda Guerra Mundial. A minha adolescência tirou muito proveito do que aprendi nos cafés como complemento do ensino. Foi aí que li a imprensa francesa clandestina que era publicada escapando da censura da ocupação alemã. A poesia de resistência representada por esse mago que foi Aragon, por Éluard, Supervielle e outros seduziu-me a tal ponto, que em 1944, completei o meu primeiro livro, que ficou para sempre inédito e se chama Amada de Nome Indizível. Do conjunto enviei um poema ao Adolfo Casais Monteiro que me escreveu a animar-me e a pedir autorização para publicar um na nova revista denominada Mundo Literário, na qual fui o segundo, logo a seguir a Jorge Sena. Ao mesmo tempo publiquei, poesia de «engagement», como era moda, em jornais de Famalicão e da Póvoa do Varzim.

Vivi na Beira durante 20 anos. Era um ambiente cultural interessante e por isso aí publiquei os meus primeiros livros:

Poemas Juntos à Fronteira, respondia a uma crença de que o Mundo vivia um momento de transição que já tardava, já era mais utopia do que crença justificada: não chegou a transpor a fronteira que o levaria a uma vivência de humanidade mais justa, mais fraterna.O desencanto, esse, ganhou voz na Jangada do Incoformismo; o barco tinha naufragado, mas eu, incoformado, navegava ainda numa jangada. Ainda no mesmo ano, ganhei o concurso da Câmara Municipal e, com esse dinheiro, publiquei O Amor Diúrno, um conjunto de poemas sensuais e eróticos. Em notória diferença de conteúdo publiquei Feições Para Um Retrato.

No total das seis obras, publiquei apenas 183 poemas, Entretanto fiz muitos mais, obedecendo a estados de alma muito variados e um tanto espaçados, mas que me não pareciam dignos de publicação e acabavam no cesto dos papéis

Os dois últimos livros publicados em Maputo: Monódia deveu-se às amizades do António Sopa e do Calane da Silva. É muito resultado de um monólogo que mantinha comigo desde longa data. Já Os Olhos Deslumbrados é a expressão de muitos motivos de deslumbramento que a vida tem proporcionado aos meus olhos.E ainda organizei e encontra-se inédita a antologia Amor Solar, com poemas desde o antigo egípto e de várias culturas até ao século XIX.
Apesar de muito admirar o Octávio Paz, prefiro a definição de Louis Mac Neice: «a poesia é um instrumento de precisão para fixar a reacção de um Homem à vida».»

Fernando Couto

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OBRAS DO AUTOR
Poemas junto à fronteira - Beira, 1959. Edição do Autor;
Jangada do incoformismo - Beira, 1962. Colecção «Poetas de Moçambique»;
O Amor Diurno - Beira, 1962. Edição doAutor;
Feições para um retrato - Beira, 1871. Edição ATCM;
Monódia - Maputo, 2001. Edições AMOLP;
Os Olhos Deslumbrados - Maputo, 2001. Edição Ndjira;
Rumor de Água ( Antologia Poética)- Maputo, 2007. Edição Ndjira;


TRADUÇÕES
Rubayyat, de Omar Khayyam  - 1.ª edição Morais editor, 1981; 2.ª edição Estampa, 1990;
Ladrões de Prazer -Antologia da poesia Hispano-árabe, 1991;
Dez poetas espanhóis do século XX - Ndjira, 2003.



JORNALISMO EXERCIDO
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OBRAS MAIS RECENTES
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(...) Então lembrei que o passado pessoal e colectivo não é somente um traço a lápis que se apague com uma safa, mas, isso sim, uma parte inconsútil das nossas vidas, que serve de base ao presente e chegando mesmo a influenciar o futuro.

Este livro serve de evocação da Beira, cidade que amei e onde vivi durante vinte anos e continuo a amar e a admirar como a mais espantosa realização populacional de toda a colonização portuguesa a âmbito mundial (...)
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QUERO-TE POESIA

O rumor audível
de um fio de água
deslizando breve.
A leve carícia
aflorando o rosto
com pudor de ternura.
A melancolia do adeus
inevitável e definitivo.
O bramido da cólera
dos ofendidos e humilhados
com vigor do vento
nos altos montes
ou tão só o choro silencioso.



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