terça-feira, 6 de abril de 2010

OBRAS DE JOSÉ SARAMAGO

A CAVERNA

Uma pequena olaria, um centro comercial gigantesco. Um mundo em rápido processo de extinção, outro que cresce e se multiplica como um jogo de espelhos onde não parece haver limites para a ilusão enganosa. Este romance fala de um modo de viver que vai sendo cada vez menos o nosso e assoma-se à entrada de um brave new world cujas consequências sobre a mentalidade humana são cada vez mais visíveis e ameaçadoras. Todos os dias se extinguem espécies animais e vegetais, todos os dias há profissões que se tornam inúteis, idiomas que deixam de ter pessoas que os falem, tradições que perdem sentido, sentimentos que se convertem nos seus contrários. Fim de século, fim de milénio, fim de civilização.

Uma família de oleiros compreende que deixou de ser necessária ao mundo. Como uma serpente que despe a pele para poder crescer noutra que mais adiante se há-de tornar pequena, o centro comercial diz à olaria: «Morre, já não preciso de ti». Em A Caverna José Saramago enfrenta-se ao processo acelerado de desumanização que estamos vivendo. Com os dois romances anteriores - Ensaio Sobre a Cegueira e Todos os Nomes - este novo livro forma um tríptico em que o Autor deixou inscrita a sua visão do mundo actual, da sociedade humana tal como a vivemos. Não mudaremos de vida se não mudarmos a vida.

 Segundo Noa 1, esta obra representa «o reencontro entre Saramago e Platão enquanto espaço, não só de esperança, mas sobretudo, de um romantismo salvífico, vitalista e regenerador. Este é, pois, um, sopro que, cruzando recriadoramente ficção e realidade, traduz um ideal que é, acima de tudo, expressão ou aspiração à renuncia que o homem tem de fazer de si próprio enquanto  gerador e efeito de uma modernidade castradora e antopofágica.»
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 1 Excerto do texto de Francisco Noa:  SARAMAGO LEITOR DE PLATÃO, in A Letra, a Sombra e a Água. Ensaios e Dispersões.

 Texto Editores, 2008.
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A VIAGEM DO ELEFANTE

Em meados do século XVI o rei D. João III oferece a seu primo, o arquiduque Maximiliano da Áustria, genro do imperador Carlos V, um elefante indiano que há dois anos se encontra em Belém, vindo da Índia.Do facto histórico que foi essa oferta não abundam os testemunhos. Mas há alguns. Com base nesses escassos elementos, e sobretudo com uma poderosa imaginação de ficcionista que já nos deu obras-primas como Memorial do Convento ou O Ano da Morte de Ricardo Reis, José Saramago coloca agora nas mãos dos leitores esta obra excepcional que é a Viagem do Elefante.Neste livro, escrito em condições de saúde muito precárias não sabemos o que mais admirar - o estilo pessoal do autor exercido ao nível das suas melhores obras; uma combinação de personagens reais e inventadas que nos faz viver simultaneamente na realidade e na ficção; um olhar sobre a humanidade em que a ironia e o sarcasmo, marcas da lucidez implacável do autor, se combinam com a compaixão solidária com que o autor observa as fraquezas humanas.Escrita dez anos após a atribuição do Prémio Nobel, A Viagem do Elefante mostra-nos um Saramago em todo o seu esplendor literário.

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